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Biomédica descobre nova relação científica entre obesidade e inflamação

"Se o corpo não inflamar, ele também não engorda?", foi com essa dúvida em mente que a biomédica Angela Castoldi iniciou sua pesquisa de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Castoldi descobriu que a molécula dectina-1, antes conhecida em infecções por fungos, está relacionada à obesidade. A demonstração da relação entre molécula e doença é inédita. A pesquisa recebeu o prêmio Tese Destaque USP 2016 na categoria ciências biológicas e foi publicada na revista científica Cell Reports.

O sucesso da pesquisa foi resultado de várias tentativas e erros e da inquietação da biomédica. A relação entre obesidade e inflamação já é conhecida no meio científico desde os anos 2000, quando pesquisadores observaram que, na gordura de camundongos obesos havia aumento do processo inflamatório, ligado à proteína MyD88, que desencadeia várias doenças, como diabetes, câncer e doenças vasculares.

A explicação é que o tecido adiposo, onde o corpo armazena gordura, tem um limite e pode inflamar se a pessoa engordar demais. Essa é uma reação do sistema imunológico para conter o excesso de gordura que escapa das células. Mas o processo pode ter um efeito dominó e inflamar também as células de gordura e, depois disso, o corpo todo, causando doenças.

Partindo dessas informações, a hipótese inicial da pesquisa de Castoldi era de que, com a inibição da MyD88, fabricada em quase todo o organismo, o desenvolvimento da obesidade e da inflamação seria bloqueada. A biomédica iniciou os testes em camundongos, mas os resultados não foram como esperado. 

Nos testes, foram usados os camundongos selvagens e camundongos sem a proteína MyD88, denominados MyD88 nocautes. Os animais foram alimentados por três meses com uma dieta rica em gordura (45%). No entanto, os camundongos MyD88 nocautes ganharam muito mais peso comparados aos selvagens - resultado contrário ao previsto.

Ao revisar os testes e pesquisar em artigos científicos, a biomédica descobriu outra molécula que indica inflamação, a dectina-1. Ela não tinha sido analisada antes porque Angela estava medindo os níveis de inflamação da forma clássica, pelo nível das substâncias TNF-alfa, IL-6 e IL-1beta, que não apresentavam aumento. A biomédica se tornou a primeira cientista a relacionar a dectina-1, MyD88 e obesidade.

A pesquisa foi realizada no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, sob orientação do médico Niels Olsen Câmara e com colaboração da bióloga Marilia Seelaender.  

Humanos

Para testar se o estudo também funcionava em pessoas, a biomédica testou amostras de tecido adiposo humano. As amostras de tecido gorduroso de magros e obesos reagiram como esperado: a expressão de dectina-1 em indivíduos obesos é maior que em indivíduos magros. O resultado comprovou a tese da biomédica.