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Indústria de cosméticos ainda tem poucos produtos específicos para pele negra

Encontrar produtos de beleza específicos para quem tem pele negra, no Brasil, sempre foi um desafio. Nos últimos anos, as opções aumentaram, principalmente com a chegada da Fenty Beauty ao país, marca de maquiagens da cantora Rihanna que tem o objetivo de atender todos os tons de pele.

Mas, segundo Carol Romero, autora do primeiro livro nacional sobre maquiagem para pele negra, e Tai Lima, que lançou sua própria marca buscando resolver essa falha, o mercado precisa enxergar as mulheres pretas e pardas como clientes potenciais.

Os negros no Brasil representam 54% da população e movimentam R$ 1,7 trilhão por ano, segundo dados da pesquisa A Voz e a Vez – Diversidade no Mercado de Consumo e Empreendedorismo, realizada pelo Instituto Locomotiva. Apesar disso, parece que permanecem imperceptíveis para grande parte das empresas.

“Vivemos em uma sociedade com racismo estrutural muito grande. As pessoas pretas estão na base da pirâmide e, por isso, acham que não temos dinheiro, que não temos potencial de consumo. A maioria das mulheres negras não se veem representadas pela indústria de cosméticos. Não sou eu que estou falando, são as pesquisas”, aponta Carol Romero.

Para Tai Lima, a questão vai além: “O modelo de beleza, até pouco tempo atrás, era um só, e isso dificultou a percepção de outros grupos que não estavam dentro desse estereótipo do que é belo.”

Nos últimos anos, a indústria de cosméticos tem investido em produtos de beleza voltados para a pele negra, mas as empresas precisam estar atentas às reais necessidades das consumidoras:

“Houve uma mudança na cartela de cosméticos, principalmente nos últimos quatro anos. O mercado nacional entendeu essa questão e começou a se empenhar em produzir, mas ainda temos um longo caminho a percorrer", destaca Carol.

"Nem metade das nossas marcas atende a todos os tons de pele, e ainda há quem use o preto para pigmentar. Em algumas peles, essa base deixará a pele acinzentada. É preciso se aprofundar na parte de colorimétrica, algo básico”, complementa ela.

Dona da sua própria linha de produtos, Tai acrescenta: “Sinto que falta trazer produtos que se preocupem mais com a nossa saúde, além da gama de cores na maquiagem. Observo que muitos produtos voltados pra pele negra possuem ativos nocivos. Aliar a beleza com o cuidado da nossa pele é algo que acredito ser importante e ainda pouco explorado".

“Criei minha linha de cosméticos porque, durante 28 anos, senti na minha própria pele os efeitos de cosméticos que causavam irritação e sensibilidade. Algumas pessoas ainda não veem a pele negra como uma pele que pode ser sensível e que também precisa de proteção e cuidado.”